O Cisma do Vaticano II
Cismáticos, define o Código de Direito
Canônico, são os fiéis que se separaram do corpo da Igreja, constituído
pelo Papa e os bispos em união com ele. Vão mais diretamente contra a
Caridade, do que contra a Fé. Assim, antes do primeiro concílio do
Vaticano, poder-se-ia cogitar de um que chegasse à heresia. Exemplo
histórico é o fato constituído pela “petite église”, formada pelos
bispos e fiéis que não acataram a decisão de Pio VII, quando, cedendo às
exigências de Napoleão, destituiu todos os bispos fiéis à monarquia de
Luiz XVI. Esses bispos e fiéis não aderiram a nenhum erro doutrinário,
mas não acataram a decisão do Papa. Afastaram-se, apenas, do Papa e dos
bispos que com o Papa se mantiveram unidos. Foi um Cisma. Não foi uma
heresia.
Visto o primeiro concílio do Vaticano
ter definido como dogma de Fé que o Romano Pontífice tem, na Igreja, o
poder supremo de Jurisdição sobre bispos e fiéis, não há mais
possibilidade de se figurar um cisma que não seja também heresia, que
não rejeite uma verdade de Fé.
No entanto, como a heresia, o cisma, em
geral, envolve também discordância doutrinária. É assim que se fala no
cisma de Santo Hipólito, no século III, quando o Santo recusou aceitar a
autoridade do Papa São Calixto. Cisma, então poderia definir-se um
corpo de doutrina que se apresentaria como lote doutrinário da Igreja, e
que, na realidade, se afastaria da pureza e integridade dos
ensinamentos da mesma Igreja.
No caso do Vaticano II, este poderá e
deverá ser apontado como cismático, desde que se mostre que, nos seus
textos autênticos, há ensinamentos destoantes da Fé tradicional da
Igreja.
Ora semelhante dissonância foi notada,
mesmo durante os trabalhos conciliares. É, aliás, de todos conhecida a
liberdade religiosa, reivindicada pelo Concílio como direito natural,
mesmo para aqueles que não cumprem o dever de investigar qual a
verdadeira religião. Em outras palavras, o Concílio admite que
semelhante direito seja reconhecido por todos os Estados. Tal
ensinamento do Vaticano é diametralmente oposto à doutrina tradicional,
renovada por Pio IX na encíclica “Quanta Cura”.
Esse é um exemplo. Há muito mais.
Diante dessa posição cismática do
Vaticano II, o bem das almas impõe a absoluta necessidade de eliminá-la
antes de cuidar de eventuais outras, que possam aparecer. Aliás, o
Vaticano II não poderá ser apresentado como concílio da Igreja Católica.
Fonte : O Pensamento de Dom Antonio de Castro Mayer; Textos selecionados 1972 ~ 1989; Editora Permanência
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